segunda-feira, 10 de setembro de 2012

quadras


(Quadras construídas em função da abertura da apresentação do texto “O médico volante” de Molière, 30 e 31 de maio de 2011, no Centro Cultural Correios, direção de Lívia Falcão).


Chegamos trazendo a festa
A farsa e os folgazões
As trovas, a alegria
A comédia e as canções

Polichinelos saltados
Saltimbancos canastrões
Arlequins, servos, criados
Figuras e fanfarrões

Nobres, burgueses, patrões
Dos negócios sempre ocupados
Não têm empregos, têm filhas
De casamentos marcados

Médicos, advogados
Profissionais liberais
Na oratória têm fé
Às vezes falam demais

Diz o dito popular
Pobre carece do pão
Precisa de trabalhar
Nos mandados do patrão

Criadagem, agregados
Também são da oralidade
Resolvem tudo na fala
No gesto, na amizade

Dizem que quem passa fome
Na vida fica sabido
Pois sabe que o mais importante
É estar forte e nutrido

Casais de enamorados
São audazes e altivos
Frontes febris, acamados
De corações aflitivos

Em estado meditativo
Fica a pessoa que ama
Sente gosto em estar vivo
Na leveza se derrama

Vi dizer que à paixão
Não tem remédio que cure
O fogo da chama é forte
Eterno enquanto dure

Eu como não tenho tempo
Nem dinheiro pra perder
Onde passo, encho meu copo
E não quero nem saber

Pois bicho que pula cerca
Não se afoga em ribeirão
Sei entrar e sei sair
Não dou trabalho a patrão

Sou prima e agregada
Dessa família em apuro
Muito nobre e mal cotada
Devendo e sem pagar juros

Pela santa inquisição
Imploro ao senhor, deveras
Foi mandado do patrão
Não vá me atirar às feras!

O dinheiro é coisa boa
Compra terras, compra gado
Só não compra o amor
Do peito dos namorados

Plantado um pé de paixão
Não arranca qualquer um
Só arranca alguém bem santo
Que tenha feito jejum

Um pé de amor foi plantado
Quem teve visão regou
Mais na frente alguém colheu
E os frutos, outro comeu

Senhores da medicina
Que têm estudos demais
Não sabem as minhas sinas
As raízes dos meus ais

Hoje fui doutor aqui
E muito fácil eu achei
Da moça bebi o xixi
E paga em dobro ganhei

No peito dos namorados
Paixão é patologia
E a cura da medicina
É um balde de água fria

Adeus até outro dia
Vamos daqui pra outras prendas
Outras praças e teatros
Cantar mais farsas e lendas.