quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Pensando o degelo.


Margaridas elásticas da tundra
Violetas profundas da tundra
As flores espirradeiras da tundra

O branco da tundra
O negro da tundra

Primeiro ato:

Uma vegetação chamada tundra,
Vasta e imensa...
As pessoas são umas geografias específicas
Gosto de memorizar os formatos
Dos dedos dos pés, dos dedos das mãos, dos narizes, e das orelhas...
Gosto de olhar muito
Entreabrindo os olhos
Batendo pálpebras
Desenhar os detalhes
As cores.

Ex:

O preto do espinho branco
O branco do espinho preto.
O carvalho vertical
Expandindo e alando.


Ato II:

As margaridas elásticas me contaram violetas profundas
E as apelidei: Margôs! (ficou mais francês)

As flores espirradeiras têm sempre os narizes vermelhos e úmidos
Eu as quero bem. Digo sempre – saúde! (para que saúde tenham).

Na tundra não existem margaridas elásticas,
Nem tampouco violetas profundas, talvez flores espirradeiras.

Olha o céu da tundra!
Cores aveludadas daquela nevoazinha.

Eu conheço a tundra?...

Anaíra Mahin
Recife – Várzea.
10 de outubro de 2009

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

sampa

O DIA EM QUE CONHECI ROMAN POLANSKI.

"Uma simples formalidade". Foi num filme de Tornatore, tava atuando o polonêsinho. Uns anos depois fui ver um filme seu com a Brigitte Bardô num colorido preto e branco, no cine se(xy)sc. O polonêsinho estava lá, com tradutora e tudo mais, pronto para a berlinda educada e babosa do público paulista. eu nem era paulista. Será q eu ai perder a oportunidade de me amostrar? Ele me respondeu atencioso e puxando conversa, perguntou do meu pai, onde ele estava, em q trabalhava? ... Eu usava um casaco azul marinho com um vestido florido cor de outono inverno, me olhei no espelho do banheiro e me achei bonita, São Paulo era uma noite seca e fria. O casaco era emprestado e eu estava solta, só, experiênciando a cidade. Eu me espevitava naquela rua augusta descendo à jardins pra ver filme de cinema tarde da noite. Tinha comprado um livro dos irmãos vilas boas num sebo cheio de conforto. Era uma cidade tão nova... comprei luvas de pelúcia rosa no camelô da esquina com a av. paulista. Estava ali, aprendendo a metrópole “tampa do crush” desse brazil, muitos nordestinos dos sertões todos com conflito de ser... São Paulo um sertão enorme, vestindo-se... e Zé Celso gay, hablando um nu necessário. Mas mais estava lá, cara-a-cara com o diretor do bebê de Roseméri. Ele sorrindo sentado no palco, uma distância próxima, um perto inventado. Todos eram seres humanos, e uns brigavam pra aparecer mais que eu... meus cabelos estavam curtos e castanhos médios, a água da casa do meu pai era uma água boa, esquentada pelo sol armazenado nas placas de energia solar, e o cabelo tava bem sedoso, tava lindo. Meu diálogo com Roman? Foi bom... mas uma oralidade despojada... palavrapalavra... Perguntei sobre “O Pianista”, explicando antes o fato de não ter visto, mas que dentro do que sabia sobre ia explicitar uma inquietação geopolítica, de moça jovem e armada amada amando. Perguntei: como era fazer um filme sobre o martírio dos judeus, um tema já tão explorado, num momento em que o estado judeu de Israel exercia um papel nazista contra o estado/as pessoas palestinas?... Uma moça namorada de um médico que encontrei lá, coincidentemente amigo de casa de estudante de meu pai, disse que minha pergunta tinha sido idiota, genérica... etc e tal. Fiquei meio desgostosa, mas superei. Tinha uma senhora judia lá e comecei a conversar com ela, era velhinha, isso já faz uns anos, ela já deve ter desencarnado; ela nos contava q foi criança (feito o menino daquele filme com Roberto Benini) em campo de concentração na Alemanha. Ela contava sua história querendo contar. Era uma senhora bonita e não recordo seu nome... Mas, voltando ao encontro com Roman, penso que fluiu uma sintonia... muito embora, num segundo momento, tenha saído dali acompanhado de seguranças ali era um homem, gente, sendo; Bicho-velho e hablador. O velhos e eu, das ouças de calçada e noite de lua,carente de um causo, de um afago oral. Medo das dentadas, de medo, senhor Cronos devorando os filhos, devorando as pedras do aperrreio e do engano. Essas gentes também fazem a vez das pedras; densas, preciosas, litogra_fadas... Me encantam as litografias e as fadas... Safadeza boa nas moças soltas da ilha de Safos. Nas meninas de safo: a liberdade (in)terna da ilha.
Meio Polanski, meio Woody Allen. Meio Mia Farrow.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Bahia.

daqui parece que nunca acaba quando a estrada ruma o sudeste. caminho sem fim. feira de santana. vitória da conquista. aquele sertão e depois minas.
a lembrança mais antiga que trago de lá é a imagem de um mendigo jogando um pão seco na minha mãe, subiamos uma ladeira longa, mamãe carregava uma grande mochila verde exército. minha perninha tá doendo, eu dizia, ela respondia estar cansada à aia.o caminho levava ao convento dos franciscanos, iamos encontrar painho. chegando no convento, histórias azuis nos azuleijos. aquele patio interno bonito, anfitrião do céu. azulando meus olhos menininhos.
e foi em salvador que tomei suco de abacaxi pela primeira vez nessa vida. numa jarra de aço inox, numa mesa de madeira chique, na casa duma mulher bem rica que era casada com o meu tio avô, tio Manuel.

ao longo, a Bahia fui reencontrando, na poesia erótico brincante de luis caldas, no egito cantado por margareth menezes, na roda de sarajane, na graça tímida de carla peres... me encontrando no tropicalismo de doces salgados, tão bárbaros quanto jozés. numa antropologia social da arte, um entendimento mais total do que existe, do que se vai sentindo enquanto se vive.

dou graças ter podido dançar axé na infância, penso que essa experiência faz de mim uma pessoa mais pessoa, menos maniqueísta, que mais valoriza a alegria do fazer corpóreo da brincadeira, que mais enxerga a emergência que há em fluir processos terapêuticos de massa, de uma expressão além. que a arte, qualquer, é um mecanismo de sobrevivência.



out, 2009.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

texto de sol

Índias Cemas Mahins


Esta é a história de duas índias irmãs, gêmeas, que nasceram uma branca e uma negra.

No início o seu povo achou muito estranho, aquelas duas criaturinhas, e pretendiam matá-las, abolir da natureza saudável, equilibrada e quase previsível aqueles dois Ceres, um tanto quanto excêntricos. A índia mãe de Cema e Mahin, fugiu por alguns dias e sua resistência em preservar as vidas das indiazinhas convenceu seu povo a aceitá-las.

Muitas aventuras as índias gêmeas viveram, descobrindo plantas, bichos... fazendo amizades com sucuris, piranhas, aranhas caranguejeiras, raposas, sapos, mosquitos, abelhas, borboletas, colibris, coelhos, rios e árvores, e até as diferentes formas de nuvens...elas entendiam de tudo, chás, ervas e partos naturais, rituais, magias e dnaças ancestrais... entender a coluna vertebral foi como ver o ‘homo erectus se desintronchar‘...

...e só muito crescidas elas entenderam que uma era branca e outra negra por que elas eram os primeiros frutos de uma mistura de povos. De uma manifestação vinda dos ‘ditos sociais‘, dos que falavam de um jeito estranho, e andavam a cavalo, tinham espelhos e olhos de metais, frios com muitos pelos, porém longe dos animais, e próximos dos ferozes predadores do amor. Que mais tarde viera a produzir outras tantas ‘escravagices’ ideologicamente convincentes...e blá,blá,blá...

As índias então, Cema e Mahin saíram mundos fugidos, primeiro lutando em bando, depois um bando de duas, sempre juntinhas...conhecendo um mundo longe, cheio de pontes, favelas, avião, foram pra Itália, pra São Pulo, São José, da Coroa Grande, da Coroa pequena, do Egito, no Egito...Minino! Uma virou carta omante, com terreiro de ‘caboco’ respeitado e tudo. A galega virou Cantora de Brega, até altógrafo o povo pede quando ela passa!

Um auge de coisas de um mundo que elas não sabem onde está no mapa!

Guaranis, Ubiracis, Jupiacis, Pancararús, Tupis, Anaíras, Iracemas, Mahins, Iapurãs, Tupã, Yansãs, Oxuns, Yemanjás, Oxalás, Xangós, Nanãs, Omolus, Venus, Saturnos, Ave Marias, Manhinhas, Curumins, povo tudo que Dançava lá no quintal do terreiro da tribo das duas irmãs gêmeas índias, uma branca e outra negra, já velhas olhando o mar, respirando o olhar uma da outra e lembrando...lembrando...sem nem precisar se esforçar...


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minha sol escreveu esse texto... as irmãs somos nós... eu chorei muito quando recebi. muito feliz dela existir perto e sempre.

soraya é atriz, e foi aluna de michelotto. (tem escrito lindo, sou muito orgulhosa dela!).

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

araracangas e acangataras.

20:09 hugo: diz naira@

eu: oi guinho

20:11 vi tantas armas hoje

hugo: armas de fogo?

20:13 eu: laminadas, de fogo, ideológicas.. cortantes furantes sexys corpo denso humano20:14 e água fluindo moedas leões
20:15 corpo pesado e denso

hugo: onde foi isso? sonho?

eu: renascimentos
cintos de castidade
coisa bruta
20:16 muita releitura em mim... uma alemanha no meio de tudo, e a dimenção dos convites de deixar-se ampla
20:17 muito embora, numa agoniazinha de busca de desejo romãntico
20:18 uma mistura onírica
foi no museu de ricardo aqui na vázea hihi mas eu tinha olhos e coração tão aforando hoje20:19 tenho

hugo: hahahaha

eu: acabei de receber uma email tão q ver

hugo: s´otu mesmo anaíra

eu: eu vinha no caminho pensando na alemanha e quando liguei o computador
20:20 um amigo theo q mora na alemanha tinha me mandado um email q ver com tudo...

vou mandar p tu...


anaira

acabei de acordar de um sonho de você.eu estava na Ucrânia, visitando Drogobitch, a cidade onde meu pai e meu avô nasceram. A cidade era linda. Tinha ruelas com edifícios medievais. Tinha um sol de outono. De repente você veio falar comigo e me puxou para uma ruela deserta, me disse que queria mostrar alguma coisa. Você tirou a roupa e entrou num açude. Aí já não era mais a Ucrânia, já era o sertão. Era deserto. Você ficou bastante tempo dentro da água e depois saiu, me mostrando como você fez para fazer que uns certos tatuzinhos não te atacassem. Esses tatuzinhos eram redondos e vermelhos. O chão era muito árido, de repente passou perto da gente um bicho que era uma mistura de escorpião e porco-espinho. Eu fiquei com medo e a gente saiu andando junto pelo deserto.

beijo de berlim


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20:21 tou repondendo ele agora* ...

20:22 hugo: que bonito esse sonho bem visual

20:23 eu: esse é meu amigo que te falei q tava tambem com um filme naquela "janela internacional"

20:24 acabei não vendo nem teu filme nem o dele.
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*theo

uma lua enorme e madre pérola no céu da várzea. passei(a) à tarde numa releitura medieval... um castelo aqui perto. é um museu. e um lago denso... tenho estado numa maré de um passado que reangulo. e esses encontros devem ver.
no entanto, ando num estado elétrico de peixe e numa fissura de mamifero.
a biologia organiza... álmica, étnica, natureza . idade reprodutiva.
no museu, canivetes sob quadros, nu trêmulo nas imagens estáticas de mulheres mareantes. as memórias em movimentos e mormaços. 'palmeiras e urnas', como no meu trabalho.
os músculos de meu pescosso estão tensos, uma agonia de busca. uma estrela vesper cruzou a estrada pensa da busca naquele natal nordestino. meus pés se enterram. vôo. uma ave verde e cinza mista à folhagem de oliveira, desprende do corpo da madeira. eu vaso. um jacaré sutil de uma litografia. os jacarés normalmente não têm umbigo. eu tinha... um umbigo cheio de afluentes de umbigo. a ucrânia, os avós, o açude (meu medo), minha tática com os tatuí-piranga, o companheirismo naquela fauna estranha, nossos caminho desertos. nossas estrelas unidas.

tenho sonhado muito... sem muito lembrar enrredos, sonhos misturados, tenho tido que acordar cedo, no dia-a-dia uma leve impressão das sincronias, as pistas têm pintado, tenho voltado a pintar tambem... a escrever. e essas viagens amplas devem explicar a dificuldade que tenho tido em acordar. em durmir. imaginando muito... trigando das sobrancelhas daquele senhor ponã de muendý tatá.

cheia de sublevaçõesinhas legítimas.

naíra.