Uma vez eu senti um chamamento
Era a chuva
parecia ouvir meu nome nas telhas
Descendo pelo metal das grades
Escorrendo na relva
Sugada pela terra
Tempos alucinados em que me ouvia na chuva
Em que a chuva falava na voz dos demônios
Em que os espíritos me acordavam no meio da noite
Na voz dos parentes, na voz dos mortos
A voz da chuva chia como um miado de areia
Quando nos permitimos a paz molhada
e o entorno não nos fere a alma rasgando o linho
Ainda existe voz na chama
da voz amarela de Oxum
Tamborilando os latões das calhas
entre espelhos de Orixá
Arrasta as folhas,
Abre sulcos
Lava
É mestra em amolecer durezas
penetrar certezas
Esborrar represas
É na voz da chuva
Que a sabedoria goteja
Fresquinha
No tempo morno
E evapora
Na sorte de um vôo
Suga pro centro da Terra
Voa no calor do magma
Na sabedoria da chuva
A planta se enlaça
É cipó
No mini mistério da fruta doce
Do dia quente
Na sabedoria da chuva
Que se faz mormaço
Chama
e amamento
sábado, 23 de outubro de 2021
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