Irmã,
você que me trança
Que transa o que bem me quer
Que me pinta, me enfeita
Põe olhos em mim, me ajeita...
Podes assim me dizer
Tudo aquilo que vier
Não tenha medo de mim
Não tenha medo, mulher
Não sou feita de açúcar
Entro na chuva com fé
Você pode me dizer
Tudo aquilo que quiser!
Solte o dedo e a palavra
Gaste aquilo que te agrava
Liberta o que é, e não é
Sem apego, solta a trava
Sem retaguarda, é filé!
Uiva, loba, ladra à lua
Sem medo de mim, perua!
Pavoa, diva, divina,
Centelha da grande Deusa...
És potência, sem retesa
Tesão, ternura, menina
Tens a sabida, não nego
A velha também te habita...
Mas considera a Sibita
Transparente, de olho cego
Olha, que há, no indizível
dizer que é forte e sensível
Sabedor dessa demanda
Bora deixar esse ego
Aos ventos não ter apego
Interagir cada banda
Soltar-se nesse espetáculo...
Soltar a tinta de polvo
Pigmentação de corvo
Liberar cada tentáculo
Podes ter raiva, e de mim
Não sou de vidro ou cristal
As janelas são espelhos
Somos mais que bem ou mal
Não tenha medo, mulher!
E me inquira, se quiser
Me chama mesmo, me chame
Que enfim a chama se acende
Quando expressa o que resente
Permite mais que se ame
E quando a gente se aceita
Nem tradição nem receita
Tem nada mais que difame
Podes trazer teu ditame
Tua receita, teu ser
Nem tudo devo comer
O que por cá se rejeita
Varia conforme a fome...
Podes dizer, faz teu nome!
Não tenhas medo não, home!
Sou o fracasso, não valho...
Não quero nada da vida
Corvo, conversa, espantalho
Mal do século, perdida...
Ser extremamente falho
Errante e tola me assumo
Não quero ser supra sumo
Auto algoz, sou indevida...
Só em avessos me espalho
E quando expresso, espantalhos...
É descaminho, é desvida
Não que me queiras saber
Mas me atrevi a dizer
E pelo verso, estilete...
E sim, Tenho uma revolta
Não é querendo dar voltas...
Mas "É verdade o bilhete"
Trago uma criança eterna
Além da lida materna
Que tem sido a minha guia
Ferimentos, crias, cascas,
Fagulhas, frestas e lascas
Ancora, mas alforria...
mais do que isso, é folia
Goma que apenas se masca...
Não quero ser nada, sou
Eu mesma, isso já me basta
Máscaras do dia à dia
Muitas aprendo a usar
cada uma me desevela
Movimenta o barco a vela
Vento que quer navegar
Por isso chego, e versejo
Parece inútil, mas vejo
Que faz sentido versar
"Letrada e oralizada"
Isso não quer dizer nada
Não é o cerne do assunto
O pico da pedra gelo
Não é mesmo a pedra gente
Jóia menina da gente...
Também não sou essa ponta
Sou alicerce e esteio
Sou colo, chão, fonte, seio
Vc não vê nem faz conta...
Você somente me aponta
E enquanto um dedo me mira
Tem outros três na tua conta
quarta-feira, 3 de novembro de 2021
sábado, 23 de outubro de 2021
chuva chamamento
Uma vez eu senti um chamamento
Era a chuva
parecia ouvir meu nome nas telhas
Descendo pelo metal das grades
Escorrendo na relva
Sugada pela terra
Tempos alucinados em que me ouvia na chuva
Em que a chuva falava na voz dos demônios
Em que os espíritos me acordavam no meio da noite
Na voz dos parentes, na voz dos mortos
A voz da chuva chia como um miado de areia
Quando nos permitimos a paz molhada
e o entorno não nos fere a alma rasgando o linho
Ainda existe voz na chama
da voz amarela de Oxum
Tamborilando os latões das calhas
entre espelhos de Orixá
Arrasta as folhas,
Abre sulcos
Lava
É mestra em amolecer durezas
penetrar certezas
Esborrar represas
É na voz da chuva
Que a sabedoria goteja
Fresquinha
No tempo morno
E evapora
Na sorte de um vôo
Suga pro centro da Terra
Voa no calor do magma
Na sabedoria da chuva
A planta se enlaça
É cipó
No mini mistério da fruta doce
Do dia quente
Na sabedoria da chuva
Que se faz mormaço
Chama
e amamento
Era a chuva
parecia ouvir meu nome nas telhas
Descendo pelo metal das grades
Escorrendo na relva
Sugada pela terra
Tempos alucinados em que me ouvia na chuva
Em que a chuva falava na voz dos demônios
Em que os espíritos me acordavam no meio da noite
Na voz dos parentes, na voz dos mortos
A voz da chuva chia como um miado de areia
Quando nos permitimos a paz molhada
e o entorno não nos fere a alma rasgando o linho
Ainda existe voz na chama
da voz amarela de Oxum
Tamborilando os latões das calhas
entre espelhos de Orixá
Arrasta as folhas,
Abre sulcos
Lava
É mestra em amolecer durezas
penetrar certezas
Esborrar represas
É na voz da chuva
Que a sabedoria goteja
Fresquinha
No tempo morno
E evapora
Na sorte de um vôo
Suga pro centro da Terra
Voa no calor do magma
Na sabedoria da chuva
A planta se enlaça
É cipó
No mini mistério da fruta doce
Do dia quente
Na sabedoria da chuva
Que se faz mormaço
Chama
e amamento
sábado, 20 de fevereiro de 2021
desrima
A rima atrapalha o verso
Quem busca se igualar
sendo, no entanto,
um verso incomum.
Teme ser diversa,
incompleta,
pé quebrada,
sem saida...
Reverso cai na rima
feito o rio corre ao mar.
Mas verso água não é
Algo é, que subverte
Um pouco alga, Alce, ou alface..
Submerso
Sempre verso do avesso
Entranha estranha...
Mas se tem rima
De toda forma
Fica sóbrio
E afim
de ser obra
Resignado
à norma
Quem busca se igualar
sendo, no entanto,
um verso incomum.
Teme ser diversa,
incompleta,
pé quebrada,
sem saida...
Reverso cai na rima
feito o rio corre ao mar.
Mas verso água não é
Algo é, que subverte
Um pouco alga, Alce, ou alface..
Submerso
Sempre verso do avesso
Entranha estranha...
Mas se tem rima
De toda forma
Fica sóbrio
E afim
de ser obra
Resignado
à norma
sábado, 30 de janeiro de 2021
dragoa
Bafo de fogo
Vindo do âmago
Grande estrago
Preciso soprar
Nó na goela
Gola apertada
Não quero engolir
Tripa não é coração
Mulher Dragão
Anti heróica
Pulsando lava
Viva vulcão
Abre essas garras
Solta essas asas
Roça as escamas
Nas lanças de caça
Coragem, mulher
Liberta essa draga
Quebra esses metais
Minas escava
Drag dragoa
Solta essa correntes
Rio que escoa
As Águas serpentes
Sete cabeças
Sete cabaças
Rabos, asas, patas
Cobras e lagartas
A força acanhada
É nó que desata
Assinar:
Postagens (Atom)