quarta-feira, 3 de novembro de 2021

cartilha sem título

Irmã,
você que me trança
Que transa o que bem me quer
Que me pinta, me enfeita
Põe olhos em mim, me ajeita...
Podes assim me dizer
Tudo aquilo que vier
Não tenha medo de mim
Não tenha medo, mulher

Não sou feita de açúcar
Entro na chuva com fé
Você pode me dizer
Tudo aquilo que quiser!

Solte o dedo e a palavra
Gaste aquilo que te agrava
Liberta o que é, e não é
Sem apego, solta a trava
Sem retaguarda, é filé!

Uiva, loba, ladra à lua
Sem medo de mim, perua!
Pavoa, diva, divina,
Centelha da grande Deusa...
És potência, sem retesa
Tesão, ternura, menina

Tens a sabida, não nego
A velha também te habita...
Mas considera a Sibita
Transparente, de olho cego
Olha, que há, no indizível
dizer que é forte e sensível
Sabedor dessa demanda
Bora deixar esse ego
Aos ventos não ter apego
Interagir cada banda

Soltar-se nesse espetáculo...
Soltar a tinta de polvo
Pigmentação de corvo
Liberar cada tentáculo

Podes ter raiva, e de mim
Não sou de vidro ou cristal
As janelas são espelhos
Somos mais que bem ou mal

Não tenha medo, mulher!
E me inquira, se quiser
Me chama mesmo, me chame
Que enfim a chama se acende
Quando expressa o que resente
Permite mais que se ame
E quando a gente se aceita
Nem tradição nem receita
Tem nada mais que difame

Podes trazer teu ditame
Tua receita, teu ser
Nem tudo devo comer
O que por cá se rejeita
Varia conforme a fome...
Podes dizer, faz teu nome!

Não tenhas medo não, home!
Sou o fracasso, não valho...
Não quero nada da vida
Corvo, conversa, espantalho
Mal do século, perdida...
Ser extremamente falho
Errante e tola me assumo
Não quero ser supra sumo
Auto algoz, sou indevida...
Só em avessos me espalho
E quando expresso, espantalhos...
É descaminho, é desvida

Não que me queiras saber
Mas me atrevi a dizer
E pelo verso, estilete...
E sim, Tenho uma revolta
Não é querendo dar voltas...
Mas "É verdade o bilhete"

Trago uma criança eterna
Além da lida materna
Que tem sido a minha guia
Ferimentos, crias, cascas,
Fagulhas, frestas e lascas
Ancora, mas alforria...
mais do que isso, é folia
Goma que apenas se masca...

Não quero ser nada, sou
Eu mesma, isso já me basta

Máscaras do dia à dia
Muitas aprendo a usar
cada uma me desevela
Movimenta o barco a vela
Vento que quer navegar
Por isso chego, e versejo
Parece inútil, mas vejo
Que faz sentido versar

"Letrada e oralizada"
Isso não quer dizer nada
Não é o cerne do assunto
O pico da pedra gelo
Não é mesmo a pedra gente
Jóia menina da gente...
Também não sou essa ponta
Sou alicerce e esteio
Sou colo, chão, fonte, seio
Vc não vê nem faz conta...

Você somente me aponta
E enquanto um dedo me mira
Tem outros três na tua conta