quarta-feira, 6 de agosto de 2025

sonhos

Uma casa reerguida
A mente ensaia no sonho
Reformada e povoada
Com coisas dos anos 90
Com Lage e até Goteira
Cortina, vento, janela
Vista, corrimão...

E o galão de memórias
que perdi na praça 
Será que o lixo levou?

Tarde branca, nublada
O sonho com fuso
Fio de sonho

Um sítio à noite
Uma carona

Uma vida é sonhar 
Com a vida ida
Que permanece
Criando memórias
De velhos sonhos
Repaginados

quinta-feira, 31 de julho de 2025

escrevo

Escrevo como quem
Vomita a bile
Do fígado
Entranhas remexidas 
Verso verde mato
Escrevo vomitando
verde Scheele
Envolta em veneno

Em verde Paris
Verde mata Sul
Branco amarelado
Da cana nos olhos
Na bile

Verde abisal 
De mundos internos
Tinta de pena
E inferno

No papel dos velhos
Alma manuscrita
Memória que salta
Verdade Aflita

Escrevo como
Quem vomita





 


quarta-feira, 4 de junho de 2025

deslocada

Tiveste apoio em teus voos?
Por que puxar meu tapete?
Em momento onde podia
Pisar no chão e voar

Efeito boi às piranhas
Tingindo as águas de sangue
Gotejando as alamedas
Pisando de casco vidros

O espelho em várias partes
Em destroços referentes
Pelo ninho das serpentes
Não carecia colar

A casa velha fechou
As portas todas bateram
Ventos gélidos das almas
Por aqui intercederam
Soprando a poeira fina
Que aos móveis se combina
Presenças de pó grafadas
No pó mágico das fadas
Gasparina, Secundina
Celestina, Mirandolina...

Ainda no voo mágico
Que me tentaram tirar
No tapete encantado
Me apoiava no ar
Podendo entrar nas alcovas
Dos ladrões de Alih babah...

Buscando me aquilombar
Eu viajei à Palmares
Com Zumbi a me guiar
Conheci mestres lunares
Seu Zito da Galileia
E o velho mestre Rufino
Do museu do fino Barro
Foi feliz esse destino

Não pude minguar meu pranto
E nem minguar meu amor
A minha Lua mutante
Constante se transformou
Fui seguindo o meu caminho
Tendo à memória um alinho
Tudo maturando ao tempo
No tempo se encaixou...

Minha mãe sempre na guia
A minha linda Maria
E os convites de Renato
De afeto e museologia
Veio Carlos, veio Lygia
E a luz dos povos indígenas 
Alinhando a poesia

Veio Celeste Vidal
E Cristina Francelino
Que trouxe Martha de Hollanda
Para o plano deu atino
Com seu delírio do nada
Do nada com seu delírio
Veio Selma e o seu Coco
Trazendo um mundo de axé
E JB vira bicho
"terrir" da cabeça ao pé
Trazendo o luxo do lixo
A poesia e o café

Na poética latente
De toda morte apagada
Veio a múmia novamente
Se deitar na alvorada
Morrendo pra nascer outra
Sobrevivendo outra morte
Mulher partida parida
Um corpo solto na sorte
De re sopro que se inscreve
E que ainda se atreve
A costurar novo corte

Inteira a roda girou
Fortuna refigurada
Meu corpo se inscreveu
Em uma nova rodada
De profundezas alheias
Onde as deidades Sereias
Me fazem de convidada

Iemanja, Janaína
Oxum, Sedna e Alamoa
As encantadas das àguas
Nos trazem suas coroas 
De ouro branco e de prata
Da névoa da Madureza
Mães dos peixes e das pedras
Da força e da beleza
Pra lavar as nossa dores
Curar as nossas feridas
Nosso prantos, dissabores
Dar sentido às nossas vidas

Uns verso soltos assim
Para não ir entalada
Botar pra fora o trajeto
E a própria caminhada
Mas hoje somente escrevo
De minha cama, deitada

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

Se dá, dão - vitoriense

"Cidadão vitoriense"
Um título sem sentido
Uma forçação no sense
Homenagear perdido
Mas fica subtendido 
Desespero que há em vista
Um comprovado golpista
Com julgamento na cola
Comprando até essa esmola 
De terra à ele mal quista

Por detestar nordestino
E se achar branco da nata
Vai atirando a fragata
De ofensiva sem destino 
Desprovido de refino
Urrando à Zona da Mata
O inelegível relata
Querendo passar no teste
"Olhe, eu sou cabra da peste,
Mas não sou cabeça chata"

Um punhado embevecido 
Se põe prostrado à aplaudir
A pular e a sorrir
Sentindo-se comovido
Fazendo de maluvido
Vai o gado vira-lata
Adorando quem o destrata
Sem preceber-se oprimido...