terça-feira, 10 de novembro de 2009

Bahia.

daqui parece que nunca acaba quando a estrada ruma o sudeste. caminho sem fim. feira de santana. vitória da conquista. aquele sertão e depois minas.
a lembrança mais antiga que trago de lá é a imagem de um mendigo jogando um pão seco na minha mãe, subiamos uma ladeira longa, mamãe carregava uma grande mochila verde exército. minha perninha tá doendo, eu dizia, ela respondia estar cansada à aia.o caminho levava ao convento dos franciscanos, iamos encontrar painho. chegando no convento, histórias azuis nos azuleijos. aquele patio interno bonito, anfitrião do céu. azulando meus olhos menininhos.
e foi em salvador que tomei suco de abacaxi pela primeira vez nessa vida. numa jarra de aço inox, numa mesa de madeira chique, na casa duma mulher bem rica que era casada com o meu tio avô, tio Manuel.

ao longo, a Bahia fui reencontrando, na poesia erótico brincante de luis caldas, no egito cantado por margareth menezes, na roda de sarajane, na graça tímida de carla peres... me encontrando no tropicalismo de doces salgados, tão bárbaros quanto jozés. numa antropologia social da arte, um entendimento mais total do que existe, do que se vai sentindo enquanto se vive.

dou graças ter podido dançar axé na infância, penso que essa experiência faz de mim uma pessoa mais pessoa, menos maniqueísta, que mais valoriza a alegria do fazer corpóreo da brincadeira, que mais enxerga a emergência que há em fluir processos terapêuticos de massa, de uma expressão além. que a arte, qualquer, é um mecanismo de sobrevivência.



out, 2009.

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